Fumar antes de dormir ajuda ou prejudica o sono? Entenda essa relação.
Publicado em 29/08/2023
Quem fuma ou convive com um fumante sabe que o cigarro, muitas vezes, é utilizado com o objetivo de relaxar. Por isso, algumas pessoas têm o hábito de fumar antes de dormir.
Essa estratégia, no entanto, pode ser uma vilã disfarçada. A nicotina, principal substância presente no cigarro, inicialmente provoca uma sensação de alívio de tensão e modulação do humor. Porém, ela é estimulante e, por isso, não permite ao usuário alcançar uma boa qualidade de sono.
Quando o tabagismo se associa ao hábito de beber café antes de dormir, o cenário tende a ficar ainda mais perigoso. Não é incomum conhecer alguém que tem o costume de fumar junto com uma xícara da bebida. Acontece que a cafeína é capaz de estimular o sistema nervoso central e prejudicar os mecanismos da indução de sono. Um estudo publicado na Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúde demonstra que a associação de fatores de risco para o bruxismo, incluindo o consumo de café com o cigarro, aumenta consideravelmente a chance de ocorrência desse distúrbio.
Nas próximas linhas, você entenderá mais sobre como o tabagismo afeta o sono e o que pode ser feito para evitar essa consequência.
Por que não fumar antes de dormir?
Apesar de ser legalizado, o cigarro é uma droga e desencadeia uma série de reações no sistema nervoso central, desequilibrando o funcionamento natural do organismo.
Os efeitos do consumo do tabaco são semelhantes aos do álcool. Nos dois casos, é comum que o usuário se sinta sonolento. Porém, essas substâncias são estimulantes e agem no corpo durante horas após o uso. Como consequência, o indivíduo pode demorar a dormir, não ter uma noite de sono reparadora, sentir-se mais cansado ao longo do dia e desenvolver distúrbios de sono. De acordo com a National Sleep Foundation, dos Estados Unidos, fumar à noite está fortemente associado à insônia e menor duração de sono.
Qual efeito o cigarro causa no sono?
A sensação imediata de relaxamento após fumar é causada pela nicotina. Ela ativa a dopamina, que atua nos centros de prazer do cérebro; no entanto, a longo prazo, essa ação pode ser inibida de forma natural, causando a dependência do indivíduo na substância para obter a sensação de bem estar, por exemplo. Em compensação, a nicotina também atrapalha a liberação da melatonina, hormônio regulador do sono, e favorece a da adrenalina, substância estimulante. O resultado disso é um sono superficial e fragmentado.
Sono agitado, apneia e sono interrompido são condições recorrentes entre as pessoas que fumam.
De acordo com um estudo realizado pela Unifesp com dados do Instituto do Sono, o tabagismo leva a diversos problemas de sono, ainda que o mecanismo desses efeitos não esteja completamente esclarecido. Alguns deles são conhecidos a partir dos relatos de pacientes documentados em literatura. A pesquisa brasileira reforçou parte desse conhecimento analisando parâmetros objetivos de sono.
Consequências do tabagismo sobre o sono
- Dificuldade em adormecer e manter o sono;
- Despertares noturnos;
- Aumento da ocorrência de roncos;
- Distúrbios respiratórios de sono, como a apneia;
- Redução da concentração de oxigênio no sangue;
- Dificuldade de acordar;
- Sono insatisfatório;
- Perda da qualidade de sono;
- Mau desempenho pela manhã.
Quem fuma ronca mais?
O tabagismo não altera apenas o equilíbrio químico do cérebro, necessário para dormir bem. Ele também tem efeitos diretos sobre o sistema respiratório e pode provocar ou agravar roncos e outros distúrbios.
Além da nicotina, o cigarro carrega inúmeras substâncias tóxicas, como a amônia, que danifica lentamente a mucosa do nariz, da boca, da garganta e dos brônquios. O calor da fumaça causa irritação e provoca edema (inchaço) nessas estruturas.
Assim, a passagem de ar pelo nariz, boca e garganta fica prejudicada, com menos espaço para entrar e sair. Portanto, ao passar por esse estreitamento, a respiração se torna mais ruidosa, o que causa ou piora o ronco.
Também é relevante se atentar ao risco de apneia obstrutiva do sono, pois há necessidade de maior esforço respiratório e podem ocorrer pausas temporárias na respiração.
Quais são as consequências da interrupção do tabagismo para o sono?
Embora o desejo de dormir melhor seja um incentivo para abandonar o cigarro, é preciso ter consciência de que esse benefício virá com o tempo. Além disso, pode ser que os sintomas piorem antes de melhorarem.
Afinal, a nicotina interage com receptores de todo o corpo, causando a dependência. Quando seu fornecimento é interrompido, o organismo precisa reaprender a funcionar sem essa substância. A adaptação costuma ser um desafio difícil nas primeiras semanas, mas todo o esforço é recompensado no fim.
Inicialmente, quem para de fumar pode enfrentar alterações de sono, como insônia ou sonolência excessiva. Esses quadros estão relacionados à ansiedade e às mudanças nas substâncias de estímulo do sistema nervoso central, geradas pela falta do cigarro.
O tabagismo da mãe prejudica o sono do bebê?
Além de atrapalhar o próprio sono, no caso das mulheres que amamentam, o cigarro afeta o sono de seus bebês. É o que sugere uma pesquisa publicada na revista Pediatrics, que avaliou o efeito da nicotina em crianças de 2 a 7 meses de idade. A conclusão do estudo foi que os bebês acompanhados apresentaram uma redução de 37% no tempo de sono quando foram amamentados após o uso de tabaco pelas mães.
O nível de alteração de sono estava diretamente relacionado à dose de nicotina que os bebês recebiam no leite materno, condizente com o seu papel como substância estimulante capaz de causar distúrbio de sono.
E o cigarro eletrônico, também atrapalha o sono?
Embora pareçam inofensivos, os dispositivos eletrônicos para fumar (DEF), também conhecidos como vaper e pod, são tão – ou mais – prejudiciais quanto os cigarros convencionais. Um estudo realizado com jovens e adultos nos Estados Unidos (EUA) descobriu que pessoas que fumam diariamente cigarros eletrônicos têm 49% a mais de chances de sofrer com privação de sono, em comparação com quem nunca os utilizou. Os pesquisadores sugerem, ainda, que a nicotina inalada por meio desses aparelhos causa alterações nos neurotransmissores que atuam no sono.
Porém, além da nicotina, os cigarros eletrônicos englobam dezenas de outras substâncias tóxicas, como os metais, o propilenoglicol e as nitrosaminas. Dessa forma, deve-se ressaltar que o seu uso pode levar a consequências graves, incluindo o câncer. Apesar disso, infelizmente, 1 a cada 4 jovens com idade entre 18 e 24 anos no Brasil já utilizou o cigarro eletrônico, segundo dados do estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) em parceria com a Vital Strategies.
Por que a pessoa que fuma pode se sentir mais cansada?
Uma das consequências do tabagismo é a sensação de cansaço excessivo, mesmo após dormir, o que pode levar à sonolência diurna.
O cigarro possui uma substância denominada monóxido de carbono, capaz de bloquear a hemoglobina, a proteína responsável por transportar o oxigênio no organismo. O monóxido de carbono reduz os níveis de oxigênio no sangue. Como consequência, o fumante se sente mais cansado. As complicações ocasionadas pelo fumo a longo prazo, como as doenças cardiovasculares e respiratórias, tornam esse cenário ainda pior.
Até aqui, você provavelmente compreendeu a importância de vencer o tabagismo para ter uma boa qualidade de sono e cuidar da saúde. Por isso, aqueles que almejam largar o cigarro devem procurar ajuda de especialistas para tratar essa dependência química, ter mais saúde e dormir melhor.
Buscar apoio médico e psicológico para combater o tabagismo tende a aumentar muito as chances de sucesso. Esses profissionais ajudam a entender as etapas da abstinência e podem acompanhar o paciente recomendando o uso de medicamentos e/ou recursos cognitivo-comportamentais para enfrentar essa fase da melhor forma possível.
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