Bruxismo do Sono: o que é e como tratar?

Publicado em 06/08/2021

O bruxismo é uma atividade muscular repetitiva caracterizada pelo ranger ou apertar dos dentes durante o sono. O termo tem origem na palavra grega brychein, que significa ranger dos dentes, comportamento oral relacionado a dor, nervosismo ou raiva, e é relatado desde o antigo testamento da Bíblia Sagrada. Na literatura científica, a nomenclatura foi descrita pela primeira vez por Marie e Pietwiekwicz, em 1907. 

Segundo a Academia Americana de Medicina do Sono, o bruxismo do sono é classificado como distúrbio de movimento e definido como uma atividade rítmica dos músculos da mastigação (ARMM). Caracteriza-se pelo apertar ou ranger dos dentes e/ou contração da musculatura mastigatória, com a projeção da mandíbula para a frente ou para os lados, o que pode ocorrer com ou sem contato dentário. 

Estudos epidemiológicos abordam o bruxismo do sono por questionários, entrevistas e exame clínico, em sua maioria sem polissonografia. Esses estudos relatam prevalência mais alta na infância, ocorrendo em cerca de 14% e podendo atingir até 40% das crianças, alcançando cerca de 8% dos adultos e 3% das pessoas acima de 65 anos de idade. Em um estudo publicado em 2013, com uma amostra representativa da cidade de São Paulo, encontrou-se uma prevalência do BS de 12,5% utilizando um questionário como critério de diagnóstico em 1.042 voluntários adultos, e 5,5% quando se associou o questionário ao exame de polissonografia. 

Quais os sintomas do bruxismo do sono? 

A qualidade de vida do paciente é prejudicada pelo bruxismo que, além de perturbar o sono dos familiares, pode provocar problemas como:  

  • Dentes achatados, fraturados, lascados ou soltos 
  • Esmalte dental trincado, desgastado, expondo camadas mais profundas do dente, que pode sofrer lesões irreversíveis 
  • Aumento da sensibilidade dentária 
  • Dor na face 
  • Dor na mandíbula 
  • Dor de ouvido 
  • Dor de cabeça 

Quais os principais indicadores de risco? 

O bruxismo do sono ocorre devido a múltiplos fatores. Suas causas são controversas e ainda não bem definidas. Pesquisas têm mostrado que estão associadas a fatores do sistema nervoso. Serão ressaltados aqui os indicadores de risco com maiores evidências científicas.  

Fatores psicossociais 

Embora controverso, os fatores psicossociais (estresse, depressão, ansiedade e competitividade) parecem influenciar a atividade do bruxismo. Em um estudo epidemiológico, em que foram realizadas 13.057 entrevistas por telefone, com indivíduos da Alemanha, Itália e Reino Unido,  concluiu-se que uma vida muito estressante é um indicador de risco significativo para o bruxismo do sono. 

Genética 

Embora nenhum marcador genético tenha sido identificado até o momento, alguns estudos mostram que o bruxismo, pelo menos em parte, pode ser geneticamente determinado. Em um artigo científico, pesquisadores mostraram que 37% dos pacientes com diagnóstico de bruxismo do sono apresentavam pelo menos um membro da família com queixa de ranger os dentes, e 15% relataram ter dois ou mais familiares com diagnóstico de bruxismo do sono.  

Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) 

Um outro indicador de risco avaliado por pesquisadores que se dedicam ao estudo do bruxismo do sono é sua associação com a apneia obstrutiva do sono.  

Insônia 

A literatura científica evidencia a insônia como um outro distúrbio de sono associado ao bruxismo do sono. Em um estudo publicado em 2020, os autores descreveram essa associação predominantemente em mulheres com idade entre 35 e 50 anos. Além disso, observaram que sujeitos com insônia tinham duas vezes mais chances de apresentar bruxismo do sono, quando comparados com um grupo de bons dormidores. 

Refluxo Gastroesofágico 

Outra hipótese interessante aponta uma associação do bruxismo do sono com a doença do refluxo gastroesofágico.  

Fatores exógenos 

Muitos artigos sobre o bruxismo vêm indicando ainda uma associação com neurotransmissores, álcool, tabaco, cafeína, drogas de abuso e medicações, como os antidepressivos inibidores da recaptação da serotonina. Sabe-se que as drogas psicoativas afetam o sistema nervoso central, causando alterações de humor, comportamento e cognição. 

Quais os tratamentos do bruxismo do sono? 

São necessárias diferentes abordagens no tratamento dessa condição. Não há uma única terapia para todos os casos, nem a cura do bruxismo. Os tratamentos disponíveis envolvem o manejo das possíveis causas e a prevenção dos danos potenciais causados em consequência do bruxismo do sono. 

O tratamento pode ser conduzido por diferentes estratégias: 

Comportamental 

A estratégia comportamental deve ser a primeira opção, pois, além de ser bastante segura, é bem aceita pelos pacientes. A orientação para evitar a ingestão de álcool e cafeína e o consumo de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, é muito importante, assim como a educação quanto ao controle dos hábitos parafuncionais em vigília, utilização de técnicas de relaxamento, biofeedback, terapia cognitivo-comportamental, acompanhamento psicológico, higiene do sono e hipnoterapia. 

Placas 

Os aparelhos oclusais, como as placas estabilizadoras e os aparelhos intraorais de avanço mandibular (AIOAM ), este último usado no tratamento dos distúrbios respiratórios do sono, têm sido extensivamente utilizados, tanto na maxila quanto na mandíbula, ou em ambas, com o objetivo de proteger os dentes, a gengiva, a musculatura e a articulação temporomandibular. As chamadas placas rígidas, normalmente em resina acrílica, induzem uma melhor resposta muscular quando comparadas com as placas resilientes (soft). 

Farmacológico 

Algumas medicações parecem estar envolvidas no sentido de atenuar o bruxismo do sono, suportando a hipótese de um envolvimento do sistema nervoso central na gênese do bruxismo do sono. A literatura é controversa quando envolve esta modalidade de tratamento e, na maioria das vezes, baseia-se em estudos pontuais e relatos de casos. Desse modo, essa terapia deve ser de última escolha para o controle do bruxismo do sono. 

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Milton Maluly Filho  
Cirurgião-dentista e Doutor em Ciências pela Unifesp/Instituto do Sono

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