Os perigos do uso indiscriminado de medicamentos para dormir

Publicado em 23/05/2024

Na busca por boas noites de sono, a tendência é que as pessoas optem por soluções que parecem rápidas e eficazes. Não é difícil conhecer alguém que utiliza medicamentos para dormir, frequentemente conhecidos como “pílulas mágicas”. O problema é que em boa parte dos casos não há prescrição médica.

A automedicação pode ser considerada cultural no Brasil. Cerca de 77% da população no país tem esse hábito, segundo pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF), por meio do Instituto Datafolha, divulgada em 2019.

O uso indiscriminado de medicamentos representa um risco à saúde. No caso das substâncias que induzem o sono, os efeitos colaterais podem incluir desde dores de cabeça, amnésia e diarreia até alucinações e sonambulismo.

Entre os fármacos, o uso abusivo de Zolpidem tem se destacado, principalmente devido à repercussão dos seus efeitos nas redes sociais. A sua utilização se tornou mais frequente durante a pandemia de Covid-19, quando a qualidade de sono de muitas pessoas foi prejudicada por fatores associados à ansiedade, preocupação e tristeza.

A popularização do Zolpidem

“Problema de saúde pública”. É assim que a Dra. Dalva Poyares, neurologista e especialista do Instituto do Sono, define o consumo desenfreado de Zolpidem, principalmente porque o medicamento se relaciona à dependência e ao abuso.

O Zolpidem é um hipnótico não-benzodiazepínico do grupo das imidazopiridinas, com propriedades que causam sedação, relaxamento e redução da atividade cerebral. Ele pode ser indicado para tratamento de curto prazo da insônia.

Embora disponível no Brasil desde os anos 90, o seu consumo excessivo e sem orientação médica se agravou nos últimos tempos. Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), foram comercializadas 8,73 milhões de caixas no país apenas em 2020.

Um dos problemas é que os seus efeitos são reduzidos gradativamente, pois os receptores do sistema nervoso se tornam insensíveis ao fármaco, o que leva à necessidade de aumentar cada vez mais as doses para alcançar o resultado desejado. Além da tolerância do organismo, o vício é um risco do seu uso contínuo.

O medicamento ainda pode causar sonambulismo, alucinações, confusão mental e atividades inconscientes, que normalmente geram arrependimento ou até consequências mais graves. Nas redes sociais, usuários relatam experiências preocupantes, como compras exacerbadas e automutilações.

Para pacientes com prescrição, o prazo máximo do tratamento com Zolpidem é de 4 semanas, sempre com acompanhamento e seguindo as orientações médicas.

E o suplemento de melatonina?

Antes de responder à pergunta, é preciso entender o que é a melatonina. Trata-se de um hormônio produzido naturalmente pela glândula pineal, localizada na parte central do cérebro. Ela atua sobretudo na regulação do ciclo circadiano, que “organiza” as funções do corpo ao longo do dia, incluindo o sono.

Como a secreção ocorre na escuridão, é como se o papel da melatonina fosse avisar ao organismo que está na hora de dormir. A sua suplementação pode ser indicada pelo médico em alguns casos de transtorno do espectro autista (TEA), deficiência visual e distúrbios do ritmo circadiano, por exemplo. 

Embora pareça inofensivo, o uso de melatonina sem recomendação médica pode ser perigoso. Diante de distúrbios de sono, a substância frequentemente apenas disfarça os sintomas, o que contribui para o atraso no diagnóstico e tratamento adequado, além de aumentar o risco de desenvolver um quadro crônico.

A venda de melatonina no Brasil como suplemento alimentar foi liberada pela Anvisa em 2021. Desde então, o seu uso indiscriminado tem sido frequente. Esse é um cenário comum em outras regiões do mundo, como nos Estados Unidos, inclusive entre jovens. Um estudo publicado na revista científica JAMA Pediatrics revelou que 19% dos adolescentes norte-americanos utilizam a substância.

Uma das recomendações da Anvisa é que o produto não deve ser consumido por gestantes, lactantes, crianças e pessoas envolvidas em atividades que requerem atenção constante.

Leia também: 5 fatos sobre a melatonina e sua relação com o sono

Dicas para dormir melhor — sem medicamentos

A higiene de sono pode ser a sua melhor aliada para noites tranquilas. Listamos a seguir algumas recomendações para ajudar você a dormir bem de forma natural, sem colocar a sua saúde em risco:

  1. Estabeleça horários fixos para dormir e acordar todos os dias;
  2. Antes de dormir, evite se expor a telas de equipamentos como celular e TV;
  3. Durma em um ambiente silencioso e escuro ou com baixa luminosidade;
  4. Garanta que o quarto esteja com uma temperatura agradável;
  5. Faça uma refeição leve e de fácil digestão à noite;
  6. Escolha um pijama leve e confortável;
  7. Não trabalhe na cama;
  8. Evite cafeína e estimulantes perto da hora do sono;
  9. Pratique exercício físico regularmente, de preferência pela manhã ou tarde;
  10. Faça atividades relaxantes antes de se deitar, como meditar ou ler um livro.

Saiba quando procurar ajuda

Se você tem dificuldade para iniciar ou manter o sono, é fundamental consultar um médico especialista o quanto antes. Alguns sinais de alerta podem indicar que talvez o seu descanso não seja tão reparador, como:

  • Sonolência diurna excessiva;
  • Roncos frequentes;
  • Falta de concentração;
  • Perda de memória;
  • Raciocínio lento;
  • Irritabilidade e mudanças de humor;
  • Aumento do apetite sem causa aparente.

Conheça a nossa clínica e saiba de que forma atuamos no diagnóstico e no tratamento dos distúrbios de sono.

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