Menopausa e sono: entenda o que pode mudar nessa fase da vida
Publicado em 21/05/2021
Diversos aspectos influenciam o sono da mulher: biológicos e hormonais, fatores ambientais e sociais. Insônia, síndrome das pernas inquietas, privação de sono e apneia obstrutiva do sono são alguns dos distúrbios de sono comuns na mulher.
Entre os aspectos biológicos e hormonais que afetam o sono e que podem aumentar o risco de distúrbios de sono, estão alguns que a mulher enfrenta ao longo da vida e que têm características peculiares: puberdade, pré-menopausa (ciclo menstrual, uso de contraceptivos hormonais, gestação e puerpério), além de transição menopáusica e pós-menopausa.
Neste artigo, abordarei a relação entre menopausa e sono.
O que é menopausa?
A menopausa é um marco na vida da mulher, é a data do último ciclo menstrual e representa o fim do período reprodutivo. A idade da menopausa pode variar entre as mulheres de acordo com alguns fatores. A idade média mundial de menopausa é 50 anos. Já na cidade de São Paulo, o estudo Episosono revelou que a idade média de menopausa foi 47 anos. Não houve associação com estresse e ansiedade.
Fatores genéticos podem influenciar nessa questão. Assim, a idade em que a mãe entrou na menopausa pode ser semelhante à que a filha vai entrar, bem como a expressão dos sintomas relacionados. Além disso, outros fatores alteram a idade em que a menopausa ocorre: já se sabe que a obesidade é um fator que está associado a uma menopausa mais tardia, enquanto o tabagismo tem relação com a antecipação da menopausa em cerca de dois anos.
Quais são as modificações que ocorrem com a menopausa?
Após a menopausa, a mulher atinge sua maturidade, acumulando experiências marcantes de vida. Entretanto, com a falência ovariana, passa a sofrer as consequências do hipoestrogenismo (queda do hormônio estrogênio), manifestando alterações fisiológicas em curto e longo prazos.
Uma das primeiras manifestações é a presença de ondas de calor, os fogachos, que podem vir seguidos de sudorese. Os fogachos acometem cerca de 70% das mulheres, ocorrendo em frequência e intensidade variáveis.
Algumas mulheres relatam sono interrompido por essas ondas de calor, uma alternância de calor e frio. Outras despertam antes ainda da onda de calor emergir. É bastante frequente essa associação de despertares noturnos e fogachos, e é um sinal comum da relação entre menopausa e sono.
Insônia após a menopausa
A insônia é muito frequente na transiçã0 menopáusica e na pós-menopausa. Além dos calores, as oscilações de humor e a irritabilidade podem ser causas de sono fragmentado.
Nessa fase da vida, acontecem muitas mudanças no espectro social: os filhos crescem e saem de casa para estudar ou morar fora, caracterizando a “síndrome do ninho vazio”. De forma adicional, muitas mulheres podem estar aposentadas, ou mesmo viúvas, e experimentam a solidão. Esse quadro pode, em alguns casos, contribuir para o desenvolvimento de depressão (frequente nessa fase).
Em médio e longo prazos, a perda do hormônio feminino, especialmente o estrogênio, leva a mudanças na pele, perda de colágeno (cerca de 2% ao ano) e alteração no metabolismo ósseo (aumenta osteopenia e osteoporose). Ocorre a dislipidemia (aumento de colesterol), diminuição do trofismo urogenital e ganho de peso, sobretudo aumento de gordura na região abdominal.
A secura vaginal (queixa frequente nessa fase da vida) advém da diminuição de estrogênio. Isso leva a problemas como dispareunia (dor durante a relação sexual), podendo, por isso, estar relacionada à diminuição de libido.
Essa alteração genito-urinária pode levar à nictúria (a bexiga fica mais flácida e há desejo de urinar mais vezes, inclusive à noite). Assim, a mulher desperta, vai ao banheiro, fragmenta o sono e pode ter dificuldade de adormecer novamente. Esse é mais um motivo para a mulher ter insônia após a menopausa.
Considerando os diversos aspectos abordados, a frequência de insônia após a menopausa chega a ser em torno de 60%, merecendo atenção especial.
Apneia obstrutiva do sono após a menopausa
Outra condição que deve ser esclarecida é que, após a menopausa, o diagnóstico de apneia obstrutiva do sono aumenta, o que está muito relacionado ao acúmulo de gordura abdominal.
Estudos desenvolvidos no Instituto do Sono apontaram que o aumento de 1 cm na circunferência abdominal leva ao aumento de risco de 5% do índice de apneia obstrutiva do sono. Nossas pesquisas mostraram que cerca de 50% das mulheres que procuram atendimento médico com queixa de insônia na pós-menopausa apresentam apneia do sono. São diversas as causas de insônia, e a mulher deve ser avaliada na sua totalidade para ser tratada de maneira adequada.
Como a mulher deve ser avaliada nesse período da vida?
As mulheres devem fazer acompanhamento com o seu ginecologista de confiança anualmente. Dizemos que o médico ginecologista é o clínico geral da mulher. Nessa oportunidade, a mulher pode relatar suas queixas, que costumam aparecer aos poucos, ou, mesmo sem sintomas, fazer exames de rotina. Eles ajudam na prevenção e no diagnóstico precoce.
Acreditamos que, com todas as alterações que aparecem, o ideal é que a mulher seja avaliada sob uma abordagem multidisciplinar, que considera os aspectos físicos, nutricionais, emocionais e sociais.
Com essa avaliação completa, a mulher deve ser anualmente acompanhada e fazer os exames complementares necessários.
Muitas vezes, para esclarecer o diagnóstico de distúrbio de sono, pode ser necessária a realização do exame de polissonografia.
Como a mulher deve ser tratada durante a menopausa?
Após a avaliação completa, poderemos indicar o tratamento mais apropriado nas diversas esferas.
O tratamento da mulher nessa fase visa à prevenção e ao rastreamento de doenças, bem como a abordagem dos sintomas climatéricos. Dentre eles: os fogachos, a insônia e a irritabilidade. Isso sem contar as comorbidades: a dislipidemia, osteopenia etc. Do ponto de vista medicamentoso, podemos contar com a terapia hormonal e não hormonal.
A terapia hormonal pode melhorar os fogachos, a insônia, a irritabilidade, a secura vaginal, bem como tratar osteopenia. Entretanto, nem todas as mulheres podem receber esse tratamento.
A conduta deve ser individualizada, pesando riscos e benefícios, sempre com acompanhamento médico especializado. Existe uma janela de oportunidade para se iniciar a terapia hormonal, sendo definida como em até 10 anos do início da menopausa ou 60 anos de idade.
Muitas vezes, a mulher não pode ou não deseja fazer a terapia hormonal. Nesse caso, há outros medicamentos que podem auxiliar no alívio dos sintomas ou de outras comorbidades que sejam diagnosticadas. Converse com seu médico e tire suas dúvidas.
A parte nutricional precisa ser cuidada: é preciso adequar o suporte alimentar às necessidades, com uma dieta fracionada, equilibrada, rica em cálcio, fibras, vegetais e garantindo a hidratação.
O componente psicológico é fundamental para garantir o bem-estar e qualidade de vida, logo, pode ser indicado o acompanhamento com um psicólogo. Na fase do climatério, pode ser necessária a ajuda desse profissional, sobretudo se a mulher apresentar insônia. Hoje, considera-se a terapia cognitivo-comportamental como o método padrão-ouro para tratamento da insônia, sendo muitas vezes utilizada em associação a medicações para dormir.
Terapias integrativas para sono
A Medicina do Sono tem aberto cada vez mais as portas para terapias complementares. Técnicas como a meditação, o mindfulness, a acupuntura, a aromaterapia e a yoga são aceitas e recomendadas em muitos casos. Esses tratamentos podem ser usados conjuntamente aos recursos tradicionais, trazendo resultados ainda melhores.
A associação dessas intervenções é a medicina integrativa, que vem sendo bem difundida em tratamento de pacientes oncológicos.
Resumo sobre sono e menopausa
Podemos concluir que a menopausa é um momento de maturidade da mulher, mas que pode cursar com alterações que necessitam de atenção e cuidado especiais.
Ainda bem que temos opções excelentes para que a mulher viva essa fase da melhor forma possível.
Caso tenha insônia ou qualquer outra queixa relacionada ao sono, procure ajuda profissional. O Instituto do Sono pode ajudar você!
Aqui, no Instituto do Sono, temos uma clínica com diversos especialistas na área. Para marcar uma consulta, acesse aqui.
Dr. Helena Hachul de Campos
Médica, Livre-Docente em Psicobiologia pela Unifesp. Pesquisadora no Instituto do Sono.