Insônia em crianças: veja quais são as causas e como tratar
Publicado em 03/09/2021
Dificuldade de adormecer e despertares frequentes são muito comuns em crianças. Estima-se que 20% a 30% das crianças menores de 5 anos têm um sono problemático. Uma criança que dorme pouco ou tem um sono de má qualidade pode desenvolver sintomas durante o dia, como irritabilidade, agressividade, falta de atenção e propensão para infecções. Assim sendo, o sono entrecortado tem consequência não só para a criança, mas também para o sono dos adultos. Estes, estão mais habituados a dormir continuamente à noite, diferente do padrão de sono fragmentado dos bebês e crianças com insônia.
A insônia pode ser definida como dificuldade para iniciar o sono sem a intervenção do cuidador; manter o sono (despertares frequentes); ou acordar antes do horário normal com incapacidade de voltar a dormir. Dessa forma, a insônia pode causar sofrimento e comprometimento social, profissional, educacional ou comportamental. Há dois tipos clínicos de insônia em crianças pequenas: distúrbio de associação e distúrbio por falta de limites.
Tipos de insônia em crianças
Distúrbio de associação
No distúrbio de associação, o bebê aprende a dormir em condições específicas, que geralmente necessitam da intervenção e presença dos pais (colo, embalar, mamadeira, seio materno). Os pais acreditam que o problema da criança é despertar muitas vezes à noite, sem saber que estes despertares são normais. Após um despertar noturno, a criança precisa da mesma intervenção para voltar a dormir. Embora o número de despertares seja normal para a faixa etária, o problema ocorre devido à impossibilidade de voltar a dormir sozinha, o que prolonga o período de alerta.
O distúrbio de associação costuma ser desencadeado por um problema de saúde nos primeiros meses de vida (várias infecções, cólicas, refluxo gastroesofágico), pois a criança requer atenção redobrada. Mas o problema se perpetua à medida que os pais continuam a fornecer os elementos de associação no início e no meio da noite. O distúrbio de associação compõe o que se chama de insônia comportamental do lactente, e é mais comum nas crianças menores de 2 anos de idade. Se não for feita uma intervenção, esse tipo de insônia tende a desaparecer por volta dos 4 anos de idade.
Para o diagnóstico, a polissonografia não é útil. A história clínica completa é que define o quadro. Logo, o tratamento é baseado em estabelecer rotinas, higiene do sono e extinção gradual do fator de associação. O importante é a criança aprender a dormir sozinha.
Distúrbio por falta de limites
O distúrbio por falta de limites é comum em crianças em idade pré-escolar e escolar. Ele é caracterizado pela dificuldade dos pais em estabelecer regras para a hora de dormir. Como resultado, a criança se recusa a dormir ou ficar dormindo a noite toda. Caracteriza-se por recusa da criança em ficar pronta para dormir, recusa de ir para a cama, de permanecer na cama ou uso de desculpas para não dormir (fome, sede, visitas ao banheiro, mais uma história, sucessivos beijos de boa noite). As mães e os pais que não reconhecem essas barganhas acabam cedendo e perpetuando o problema de sono.
Uma vez que a criança adormeceu, ela terá um sono de boa qualidade a noite toda. Comparada com outras crianças da mesma idade, ela costuma dormir 1 hora menos todas as noites. Temperamento explosivo, paternidade permissiva, estilos de disciplina conflitantes dos pais predispõem ao aparecimento e manutenção do problema de sono. O uso de medicamentos para alergia tem um efeito fugaz, de algumas noites. A melhor estratégia é a terapia comportamental. Portanto, os pais devem estabelecer os limites e regras e mantê-los com consistência e firmeza.
Algumas crianças podem apresentar os dois tipos de insônia comportamentalcombinados ou migrar de um distúrbio de associação para um distúrbio da falta de limites. Por exemplo, a criança que faz múltiplas barganhas e birras no início da noite pode não ter um sono contínuo a noite toda. Nos despertares noturnos, a criança volta a requisitar a ajuda dos pais e, comumente, eles deixam a criança dormir no quarto ou na mesma cama dos pais. A escolha por uma solução rápida e simples termina por ser um fator de perpetuação daquele hábito de sono. O ideal é que a criança aprenda a dormir na sua cama e no seu próprio quarto.
9 dicas para ensinar as crianças a dormirem sozinhas
- Seguir uma rotina regular das atividades do dia (lazer, escola, refeições) nos 7 dias da semana;
- Exposição à luz natural todas as manhãs;
- Horários regulares de dormir e de acordar de noite e nas sonecas diurnas;
- Reduzir a quantidade de luz uma hora antes do horário de dormir;
- Não substituir TV ou vídeos por interação pessoal antes da hora de dormir;
- Evitar alimentos ou atividades estimulantes (refrigerante, correr, pular, celular, tv, tablete) após anoitecer;
- Estabelecer rotina na hora de dormir bem relaxante, por exemplo: (banho, escovar os dentes, música/história, beijo de boa noite);
- Quarto de dormir agradável e silencioso;
- Deixar a criança dormir sozinha no berço/cama.
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Gustavo Antonio Moreira
Médico Pediatra, pesquisador do Instituto do Sono