Dormir pouco e mal: quais são as consequências à saúde?
Publicado em 15/12/2023
Se você já assistiu ao filme “Clube da Luta”, deve se lembrar que o protagonista interpretado por Edward Norton sofria de insônia crônica, o que o levou a uma crescente instabilidade mental. Devido à falta de boas noites de sono, o personagem experimentou alterações no seu funcionamento cognitivo, no humor e até no seu estado físico. Embora essa seja uma obra fictícia, na vida real, os efeitos adversos não seriam tão diferentes.
Dormir pouco e mal pode causar impactos significativos na saúde mental e física das pessoas. Apesar disso, 65% dos brasileiros não têm boas noites de sono, de acordo com um estudo publicado na Sleep Epidemiology em 2022, que teve como uma das pesquisadoras a Dra. Dalva Poyares, especialista do Instituto do Sono.
O tempo ideal de descanso por noite varia para cada indivíduo. A recomendação da Fundação Nacional do Sono, dos Estados Unidos, é de que adultos com 18 a 64 anos durmam de 7 a 9 horas diariamente. Porém, a população brasileira dorme apenas 6,4 horas (em média), segundo a Associação Brasileira do Sono (ABS).
Além da quantidade de horas, a qualidade de sono deve ser considerada, o que envolve ter um descanso reparador, não demorar muito para adormecer e não despertar durante a madrugada.
Diante desse cenário, torna-se fundamental alertar a sociedade sobre as principais consequências de dormir pouco e mal, tanto a curto quanto a longo prazo. Para saber mais, continue a leitura.
Efeitos a curto prazo
Basta uma noite de sono mal dormida para experimentar algumas de suas consequências a curto prazo. Entre elas podem estar alterações na memória, fadiga, sonolência diurna, dificuldade para se concentrar, mudanças de humor, irritabilidade, baixo desempenho nos estudos ou no trabalho e até alucinações.
Se o problema persistir, os sintomas tendem a ficar ainda piores, como revela uma pesquisa publicada na revista científica Annals of Behavioral Medicine. Segundo os estudiosos, o indivíduo pode ser acometido por nervosismo, dores, condições respiratórias e gastrointestinais e transtornos psicológicos.
Consequência a longo prazo
Se os efeitos adversos de dormir mal a curto prazo já são capazes de afetar a qualidade de vida das pessoas, você pode se surpreender com as suas consequências a longo prazo. Diversos aspectos da saúde costumam ser atingidos negativamente pela falta de um descanso reparador. Para que você entenda melhor sobre os principais prejuízos, dividimos esta seção em subtópicos.
- Saúde cardiovascular
A Associação Norte-Americana do Coração (AHA) passou a considerar, em 2020, a má qualidade de sono como um fator de risco para infarto e acidente vascular cerebral (AVC). Os distúrbios de sono costumam alterar o ritmo circadiano, mecanismo do corpo que funciona como um relógio interno e que determina quando é hora de dormir ou de acordar. Ele também interfere em diversas funções cardiovasculares, como a frequência cardíaca e a pressão arterial.
Mesmo quando o sono ruim não é uma causa direta para as doenças cardiovasculares, ele representa um fator de risco para outras enfermidades que prejudicam a saúde do coração, como obesidade e diabetes.
- Doenças crônicas
Os distúrbios de sono podem estar relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas, como diabetes tipo 2, obesidade, hipertensão arterial, asma e até câncer. Um estudo publicado na revista Plos Medicine demonstra que aqueles que dormem 5 horas ou menos têm mais chances de desenvolver essas condições na terceira idade.
Alguns distúrbios de sono também são classificados como crônicos, entre eles a insônia, a apneia obstrutiva do sono, a narcolepsia e a síndrome das pernas inquietas.
- Saúde dos ossos
Uma das consequências da má qualidade de sono é o aumento do risco de problemas ósseos, como a osteoporose. Durante a fase não-REM de sono, ocorre a liberação do hormônio de crescimento (GH). Se o adulto apresenta deficiência dessa substância, torna-se mais suscetível à perda de massa óssea.
Dormir pouco ainda diminui a produção de melatonina (hormônio regulador do sono). Uma de suas funções é a melhora da atividade celular responsável pela formação dos ossos (osteoblastos) e pela redução dos osteoclastos, células que têm como papel a degradação do tecido ósseo “velho”. O equilíbrio entre elas é fundamental para o processo de reabsorção óssea.
Leia também: Quais são os efeitos da privação de sono na saúde óssea?
- Imunidade
É durante o sono que o sistema imunológico se revigora. Quando o indivíduo está acordado, sua energia e seus processos metabólicos se dedicam às atividades diárias, como raciocinar e falar, enquanto ao adormecer se direcionam para outras funções do organismo, como o metabolismo do sistema imune.
Dormir menos de 6 horas pode prejudicar a proteção do corpo contra infecções bacterianas, indicando uma associação entre privação de sono e diminuição significativa de células NK, componentes do sistema imunológico. É o que revela um estudo realizado pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contou com a participação da diretora do Instituto do Sono, Dra. Monica Andersen.
Dessa forma, uma boa qualidade de sono também é fundamental para fortalecer a imunidade e, assim, manter-se protegido contra doenças e microrganismos prejudiciais à saúde.
- Saúde mental e cognitiva
Quando dormir mal se torna uma rotina, a pessoa fica mais vulnerável a quadros como depressão e ansiedade e são agravados problemas psicológicos já existentes. Uma pesquisa realizada na Universidade de Otago, na Nova Zelândia, e publicada no Frontiers in Psychology revelou que a qualidade de sono é o principal fator modificável para a saúde mental.
Ao analisar os indivíduos, descobriu-se que aqueles que tinham boas noites de sono apresentavam, em comparação aos que dormiam mal, menos que a metade de sentimentos negativos e depressivos.
A saúde cognitiva também é afetada, elevando a probabilidade de desenvolver condições como demência e Doença de Alzheimer.
Um estudo publicado em 2021 na revista Nature Communications revelou que indivíduos com 50 a 70 anos têm um risco aumentado em 30% de desenvolver demência quando descansam 6 horas ou menos por noite.
Principalmente durante o sono, o sistema linfático elimina os resíduos do sistema nervoso central. Entre as substâncias eliminadas está a proteína beta-amiloide, que está associada ao surgimento da doença de Alzheimer quando acumulada.
Leia também: A apneia do sono causa envelhecimento precoce?
Influência na alimentação e atividade física
Sono, alimentação e atividade física são os pilares para uma boa qualidade e expectativa de vida. O que você talvez não saiba é que dormir pouco e mal ainda pode piorar a sua nutrição e aumentar a chance de sedentarismo.
Uma das funções do sono é repor as energias do corpo. Se você dorme pouco, o seu organismo tenta compensar a “noite perdida”, o que pode ocorrer por meio de uma alimentação mais calórica. A má qualidade de sono ainda tende a aumentar a produção de grelina, hormônio que estimula a fome, o que estimula o consumo de alimentos calóricos, como doces e frituras, devido ao aumento do apetite.
Quem dorme pouco e mal também têm menos motivação e disposição para a prática de atividade física. O ganho de massa muscular e a perda de gordura também podem ser afetados negativamente pela má qualidade de sono.
É relevante ressaltar que o organismo se restaura durante o descanso. Quando o corpo entra em estado de relaxamento, estimula-se a recuperação dos músculos. Também é nesse momento que a produção e liberação de hormônios que ajudam na eliminação de gordura corporal se intensificam.
Sinais de que você dorme pouco e mal
Nem sempre identificar a má qualidade de sono é uma tarefa fácil. Cada pessoa pode enfrentar consequências diferentes de dormir mal. No entanto, entre as principais manifestações estão:
- Irritabilidade e falta de paciência;
- Dificuldade para manter o foco;
- Queda do desempenho no trabalho ou nos estudos;
- Esquecimentos frequentes;
- Sonolência diurna excessiva;
- Aumento do apetite sem causa aparente.
Se você sente que o seu sono não é reparador, procure ajuda especializada para identificar a causa do problema e, então, iniciar o tratamento adequado.
Muitas vezes, pode ser necessário realizar um check-up para confirmar ou descartar a suspeita de patologias que prejudicam o descanso, sejam elas relacionadas diretamente ao sono ou não. É possível ainda que o médico solicite exames específicos para avaliar o sono, como a polissonografia.
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