Menopausa e sono: entenda o que pode mudar nessa fase da vida
Publicado em 05/12/2023
Uma boa qualidade de sono é fundamental para o bem-estar físico e mental das pessoas. Apesar disso, 66% dos brasileiros não dormem bem, sendo as mulheres as mais afetadas pelo problema, segundo um estudo publicado na revista Sleep Epidemiology. Diversos fatores podem exercer influência no descanso do público feminino, como os biológicos, ambientais e sociais.
Entre os fatores biológicos que afetam o sono das mulheres ao longo da vida estão as variações hormonais em diferentes períodos, como na puberdade, menopausa, gestação e puerpério, e também devido ao ciclo menstrual e ao uso de contraceptivos.
Neste artigo, vamos abordar a relação entre sono e menopausa, uma fase da vida feminina que traz inúmeras mudanças e desafios. Continue a leitura!
O que é menopausa?
A menopausa se caracteriza pelo último ciclo menstrual, ou seja, quando há ausência de menstruação por pelo menos 12 meses, o que representa a conclusão da fase reprodutiva. Normalmente, ela ocorre entre 45 e 55 anos de idade.
Quais modificações surgem com a menopausa?
Após a menopausa, a mulher atinge sua maturidade e acumula experiências marcantes de vida. No entanto, por deixar de ovular, passa a enfrentar as consequências da queda da concentração de estrogênio e progesterona, conhecidos como hormônios femininos.
Uma das primeiras manifestações é a presença de ondas de calor, denominadas fogachos, que podem acontecer seguidos de sudorese, que acomete cerca de 70% das mulheres, em frequência e intensidade variáveis.
Nesse período, a mulher ainda pode apresentar perda de libido, alterações no humor e dificuldade para dormir bem. Algumas relatam sono interrompido por causa das ondas de calor, enquanto outras despertam antes da manifestação desse sintoma, devido a fatores como insônia e necessidade de urinar.
Em médio e longo prazo, a redução dos hormônios femininos, especialmente do estrogênio, provoca mudanças na pele, perda de colágeno (cerca de 2% ao ano) e alteração no metabolismo ósseo (aumento do risco de osteopenia e osteoporose). Ademais, ocorre a dislipidemia (elevação do colesterol), a diminuição da massa muscular e o ganho de peso, sobretudo manifestado por acúmulo de gordura na região abdominal.
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Insônia na menopausa
A insônia é um problema frequente durante a menopausa. As ondas de calor, as oscilações de humor e a irritabilidade podem também ser causas da má qualidade de sono.
Nessa fase da vida, ocorrem ainda mudanças no espectro social: para as mães, pode ser o momento em que os filhos crescem e saem de casa, o que pode levar à “síndrome do ninho vazio”. De forma adicional, muitas mulheres estão aposentadas, ou mesmo viúvas, e enfrentam a solidão. Há a possibilidade desses cenários contribuírem para o desenvolvimento de condições que alteram significativamente a qualidade de sono, como a depressão.
A secura vaginal é outra queixa frequente nesse período e advém da diminuição de estrogênio. Essa alteração urogenital pode causar nictúria, quando a bexiga fica mais flácida e a necessidade de urinar aumenta, principalmente à noite. Assim, por causa dos despertares noturnos para ir ao banheiro, o sono se torna fragmentado, além da possível dificuldade para adormecer de novo. Esse é mais um motivo para o desenvolvimento da insônia após a menopausa.
Apneia obstrutiva do sono após a menopausa
Após a menopausa, a incidência de apneia obstrutiva do sono (AOS) aumenta, o que está muito relacionado ao acúmulo de gordura abdominal. Estudos desenvolvidos no Instituto do Sono apontaram que o aumento de 1 cm na circunferência do abdômen leva ao aumento de risco de 5% desse distúrbio de sono. As pesquisas mostraram ainda que aproximadamente 50% das mulheres que procuram atendimento médico com queixa de insônia na pós-menopausa apresentam AOS.
Como a mulher deve ser avaliada na menopausa?
As pacientes devem realizar acompanhamento anual com o seu ginecologista de confiança. Nessa oportunidade, a mulher pode relatar suas queixas, que costumam aparecer gradativamente, ou, mesmo sem sintomas, fazer exames de rotina. Eles ajudam na prevenção e no diagnóstico precoce de doenças.
Com todas as alterações que surgem, o ideal é que a mulher seja avaliada sob uma abordagem multidisciplinar e com cuidados integrados, que considerem os aspectos físicos, nutricionais, emocionais e sociais.
Muitas vezes, para esclarecer o diagnóstico de distúrbio de sono, pode ser necessária a realização do exame de polissonografia.
Como a mulher deve ser tratada durante a menopausa?
Após a avaliação completa, o médico indica o cuidado mais apropriado para cada paciente. O tratamento da mulher nessa fase visa à prevenção e ao rastreamento de doenças, bem como à redução dos sintomas típicos da menopausa. Do ponto de vista medicamentoso, é possível contar com a terapia hormonal e não hormonal.
A terapia hormonal pode melhorar os fogachos, a insônia, a irritabilidade e a secura vaginal, bem como tratar a osteopenia. Entretanto, nem todas as mulheres podem ou querem receber esse tratamento. Nesse caso, há outros medicamentos capazes de auxiliar no alívio dos sintomas e de outras comorbidades que sejam diagnosticadas.
O aspecto nutricional também precisa ser considerado, além do componente psicológico, para garantir o bem-estar e a qualidade de vida. Hoje, considera-se a terapia cognitivo-comportamental como o método padrão ouro para tratamento da insônia, sendo muitas vezes utilizada em associação a medicações.
O acompanhamento com um especialista em sono é fundamental para prevenir, diagnosticar e tratar distúrbios de sono, que prejudicam significativamente a qualidade de vida e a saúde da mulher em diversos aspectos.
A conduta deve ser individualizada, avaliando riscos e benefícios, sempre com acompanhamento especializado. Converse com seu médico e tire suas dúvidas.
Terapias integrativas para sono
A Medicina do Sono tem aberto as portas para terapias complementares. Em muitos casos, recomendam-se técnicas como a meditação, o mindfulness, a acupuntura, a aromaterapia e a yoga. Esses tratamentos podem ser usados junto aos recursos tradicionais, como o uso de medicamentos.
Uma pesquisa brasileira realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que contou com a autoria de um pesquisador do Instituto do Sono, revelou que mulheres com 2 meses de uma rotina de meditação do tipo mindfulness apresentaram melhora nos sintomas da menopausa, na qualidade de sono e nos níveis de atenção.
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Dificuldade para dormir na menopausa: o que fazer?
Além de hábitos de higiene de sono, caso tenha insônia ou qualquer outra queixa relacionada ao descanso, é fundamental procurar ajuda profissional. Especialistas em Medicina do Sono podem ajudar você, como a equipe do Instituto do Sono, referência mundial na área.
Conheça a nossa clínica e saiba como podemos contribuir para que você tenha uma melhor qualidade de sono e de vida.