Dormir pouco engorda ou é a obesidade que piora o sono?

Publicado em 07/05/2021

Pessoa obeso com dificuldade de dormir

Sono e peso corporal são dois fatores que estão fortemente correlacionados. Existem estudos que indicam que noites mal dormidas favorecem o ganho de peso. Por outro lado, há pesquisas que mostram os efeitos negativos da obesidade sobre a qualidade de sono.

Essa ligação demonstra a importância que cuidar desses dois aspectos juntos para garantir uma boa qualidade de vida. Neste texto você vai entender como obesidade e sono interferem um no outro.

Como a obesidade afeta o sono?

Ronco

Pessoas obesas apresentam alterações nas estruturas corporais, como aumento da circunferência do pescoço e postura inadequada da língua. Essas características favorecem o ronco. Em um estudo brasileiro com pacientes obesos candidatos à cirurgia bariátrica, 71,5% declararam roncar. Além disso, 50% referiram falta de ar durante o sono.

Nessas pessoas, as vias aéreas ficam comprometidas devido à pressão da língua preenchida por excesso de gordura, bem como pelo tamanho aumentado do abdômen, reduzindo o volume dos pulmões e a capacidade de respirar adequadamente. O ronco é o primeiro sintoma que sinaliza a obstrução da garganta.

Apneia Obstrutiva do Sono

À medida que as vias aéreas ficam mais congestionadas, o fluxo de ar pode ser completamente interrompido, resultando em pausas na respiração. Quando isso começa a ocorrer de forma recorrente, está caracterizada a Apneia Obstrutiva do Sono.

Um artigo publicado na Revista Brasileira de Cardiologia apontou que em um grupo de pacientes com quadros graves de apneia avaliados havia 92% com excesso de peso. Além disso, a publicação afirma que o aumento de 10% no peso corporal faz com que o risco e a gravidade da Apneia Obstrutiva do Sono subam cerca de 32%.

Esses dados são preocupantes, porque tanto a obesidade quanto a Apneia Obstrutiva do Sono podem levar ao desenvolvimento de doenças crônicas como hipertensão arterial sistêmica, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus. A Apneia Obstrutiva do Sono de grau leve dobra o risco de hipertensão arterial, enquanto a moderada ou grave quase triplica.

Hipoventilação

Alguns casos de obstrução das vias aéreas decorrentes da obesidade podem ser graves levando à retenção do gás carbônico, o que caracteriza a hipoventilação relacionada ao sono.

Na respiração normal, nós inspiramos oxigênio e expiramos gás carbônico. Porém, devido à redução da capacidade respiratória, algumas pessoas obesas não conseguem captar oxigênio suficiente, nem fazer a eliminação adequada do gás carbônico. Essa situação aumenta o risco de complicações cardiovasculares graves, bem como o risco de morte.

Síndrome das pernas inquietas

Além das dificuldades para respirar, o peso pode ter outros impactos no sono. A doença de Willis-Ekbom, mais conhecida como síndrome das pernas inquietas, é um distúrbio de sono caracterizado por uma necessidade marcante de mover os membros. Geralmente essa compulsão ocorre no início da noite, piora em repouso e melhora com o movimento.

Ela é considerada um distúrbio de sono porque pacientes que sofrem com esse problema podem sentir a necessidade de se levantar durante a noite, o que os impede de dormir bem.

Ainda que seus mecanismos não sejam completamente entendidos, há evidências de que a síndrome das pernas inquietas é frequente em pessoas obesas.

Sono excessivo durante o dia

A pesquisa com pacientes obesos candidatos à cirurgia bariátrica citada acima também apontou que 75% sentem sonolência diurna. O sono excessivo diurno pode estar ligado a uma série de fatores, incluindo outros distúrbios de sono relacionados à obesidade. É o caso da Apneia Obstrutiva do Sono, em que um dos principais sintomas é, justamente, a sonolência.

Outro exemplo mais raro de associação entre obesidade e sono diurno são as parassonias – comportamentos anormais de sono. Uma dessas condições é o distúrbio alimentar relacionado ao sono, em que a pessoa afetada come involuntariamente durante o sono. Quando isso ocorre, a pessoa tende a ter dificuldade para emagrecer e comumente tem mais sono durante o dia.

Perder peso melhora o sono

Pesquisadores da Johns Hopkins descobriram que perder peso pode ajudar a dormir melhor. Eles acompanharam durante seis meses pacientes obesos que passaram por redução média de sete quilos de massa corporal e 15% de gordura abdominal.

O estudo identificou entre os participantes problemas de sono, como Apneia Obstrutiva do Sono, fadiga, insônia, sono agitado, sonolência excessiva, além do uso de sedativos para ajudar a dormir. Ao final da investigação, após o emagrecimento dos pacientes, foi verificada uma melhora de cerca de 20% na saúde geral relacionada ao sono.

Como o sono afeta o peso corporal?

Outra dúvida comum sobre o assunto é: a obesidade pode ser causada por falta de sono? Pesquisas afirmam que pessoas que dormem menos horas têm mais chance de se tornarem obesas. Diversos estudos científicos que analisaram os efeitos da privação de sono em pessoas de todas as idades apontam para uma conclusão semelhante, relacionando a privação de sono ao aumento do índice de massa corporal.

Confira a seguir os fatores que explicam como dormir menos pode favorecer o ganho de peso.

Desequilíbrio hormonal

A grelina e a leptina são hormônios que regulam o apetite, a fome e a saciedade. A falta ou o excesso delas altera não apenas a vontade de comer, como a escolha do que comer e a capacidade de parar de comer. Nas pesquisas, as pessoas que dormiram menos de seis horas por noite apresentaram um desequilíbrio na secreção dessas substâncias.

Tendência a ingerir mais calorias

Como resultado do desequilíbrio entre grelina e leptina, as pessoas que tiveram maior ingestão calórica, consequentemente, apresentaram maior propensão à obesidade. Além de ter mais apetite, quem dormiu menos deu preferência a alimentos mais calóricos e ricos em carboidratos, incluindo doces, biscoitos salgados e tubérculos.

Mais tempo disponível para comer

Além da alteração hormonal resultante da privação de sono, ficar mais tempo acordado pode significar uma maior oportunidade para a ingestão alimentar. Isso porque o período de sono é também um período de jejum. Assim, as horas adicionais de vigília podem criar espaço para comer mais e, consequentemente, acumular gordura corporal.

Menos disposição para o gasto calórico

A privação de sono também tende a resultar em cansaço e falta de disposição. Essa é uma hipótese adicional levantada pelas pesquisas que explicam por que dormir menos favorece o ganho de peso. Dessa maneira, a falta de disposição reduz também as chances do paciente realizar o nível de atividade física que seria necessário para utilizar as calorias adicionais ingeridas.

Curso para profissionais de saúde

O Instituto do Sono está com inscrições abertas para o curso online Obesidade e Distúrbios de Sono. O treinamento é voltado para profissionais de saúde que acompanham pacientes obesos e buscam aprimorar o conhecimento da fisiopatologia e impacto dos distúrbios de sono nessa população.

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