Qual é a relação entre autismo e distúrbio de sono?

Publicado em 23/04/2021

Criança na cama olhando ponto fixo

Famílias em que há pessoas com transtorno do espectro do autismo sabem que noites de sono nem sempre são sinônimo de tranquilidade.

Apesar de ser relativamente comum que crianças e adolescentes apresentem dificuldade de sono em alguma fase da infância, esse risco sobe consideravelmente na população com autismo, podendo ultrapassar 80%, segundo a Academia Americana de Neurologia. O risco de insônia é especialmente elevado nas pessoas que apresentam deficiência intelectual e sintomas graves de autismo.

Diferentemente do que ocorre com outras crianças, há maior chance do problema persistir ao longo dos anos entre aquelas que apresentam o autismo. Como resultado, podem surgir problemas de saúde e redução da qualidade de vida.

As principais dificuldades de sono dessa população são:

  • Recusar ir para a cama
  • Protelar ou precisar da presença de um dos pais ou cuidadores até adormecer
  • Dificuldade em adormecer e de permanecer dormindo
  • Dormir por curtos períodos ou não dormir o suficiente todas as noites
  • Problemas de comportamento diurno associados a sono insuficiente à noite

Neste texto, você vai entender melhor o que é o transtorno do espectro autista e porque ele está associado aos distúrbios de sono.

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O que é autismo ou transtorno do espectro autista?

O transtorno do espectro autista é um transtorno de desenvolvimento marcado por alterações neurológicas complexas que resultam em desafios para a interação e comunicação social, além de padrões comportamentais estereotipados.

Os sintomas aparecem nos primeiros três anos de vida. Por isso, normalmente são detectados pelo médico pediatra. Segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos uma em cada 160 crianças apresentam o transtorno.

Mais conhecida simplesmente como autismo, a condição é chamada de espectro, porque se manifesta de várias formas e com diferentes níveis de gravidade.

Algumas pessoas desenvolvem plenamente as capacidades de fala e linguagem. Outras podem ter desafios de comunicação, de sensibilidades sensoriais e problemas comportamentais, como acessos de raiva excessivos, comportamentos repetitivos, agressão e automutilação.

Qual é a relação entre autismo e distúrbios de sono?

Em pessoas com transtorno do espectro autista é comum haver um desequilíbrio do ritmo circadiano. A atividade de dormir e ficar acordado nas 24 horas do dia é regulada por um relógio biológico, que é o mecanismo que avisa ao cérebro se é noite ou dia, e se devemos ter sono ou ficar acordados.

Uma das ferramentas que regula o ciclo circadiano é a melatonina – um hormônio produzido naturalmente pelo organismo que é liberado à noite, avisando ao cérebro quando chegou a hora de adormecer.

Justamente a produção e a liberação de melatonina tende a ocorrer de forma irregular nos pacientes com autismo devido a uma alteração genética.

Outro fator que ajuda a explicar a dificuldade de dormir dessa população é adversidade (própria da condição) de perceber determinadas pistas sociais. A maioria das crianças, por exemplo, vê os pais chegando do trabalho, preparando o jantar ou dando banho e entendem essas rotinas como dicas de que está chegando a hora de ir para a cama. No caso das crianças com autismo, essa consciência é diminuída e não contribui para habituar os ciclos de vigília-.

Doenças associadas ao autismo

Há também condições atípicas que ocorrem com frequência nos pacientes com autismo e podem se somar a outros fatores na piora do sono. Por exemplo:

  • Epilepsia
  • Refluxo gastroesofágico noturno
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Transtorno bipolar
  • Psicose
  • Transtorno de déficit de atenção ou hiperatividade

Como melhorar o sono no autismo?

O primeiro passo antes de definir o tratamento dos distúrbios de sono relacionados ao autismo é identificar as causas. Eventuais intervenções em prol de noites de sono melhores devem ser feitas em etapas.

Primeiro passo: atuar sobre doenças concomitantes

Pode ser que a origem da dificuldade de dormir esteja no uso de determinados medicamentos ou na presença de alguma doença associada. Nesses casos, é primordial realizar o ajuste da medicação e tratar a outra doença, reduzindo consequentemente os impactos sobre o sono.

Segundo passo: tratamentos comportamentais

As estratégias comportamentais devem ser adotadas por todos os indivíduos, pois sempre trazem benefícios e não têm efeitos colaterais. Apesar de parecerem simples, são muito importantes para modificar os padrões que perpetuam a insônia (má higiene de sono, hábitos inadequados e falta de rotina).

Dessa forma, é importante:

  • Estabelecer uma rotina de sono consistente com horários regulares para dormir e acordar
  • Escolher um horário de dormir próximo ao horário em que a criança costuma ficar com sono
  • Não permitir o uso de dispositivos eletrônicos, como computadores ou televisores, perto da hora de dormir

Terceiro passo: uso de melatonina

Considerando que já se sabe que a melatonina é produzida e liberada de forma irregular no organismo, o médico pode considerar o uso desse hormônio para melhorar a qualidade de sono.

Especialmente nas crianças, é importante iniciar com doses baixas e se atentar para eventuais efeitos colaterais, pois ainda são necessários mais estudos sobre o assunto.

No Brasil, a melatonina está disponível exclusivamente nas farmácias de manipulação, sendo que a venda é restrita à apresentação de receita médica.

Por que é importante cuidar do sono no autismo?

Problemas de sono podem tornar ainda mais graves os desafios comportamentais em crianças e adolescentes. Além do sono de boa qualidade contribuir para o estado geral de saúde, é consenso em todo o mundo que ele é fundamental para o descanso restaurador, para a capacidade de aprender e memorizar informações, para o metabolismo e para a saúde emocional.

Noites mal dormidas podem exacerbar alguns sintomas do transtorno do espectro autista, gerando prejuízos para o equilíbrio emocional, comportamental, de humor e da função cognitiva. Os distúrbios de sono também estão associados a maiores déficits de comunicação, obesidade e aumento no risco da criança se machucar.

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