Sonambulismo: entenda tudo sobre esse distúrbio de sono
Publicado em 09/03/2021
Muito estereotipado, o sonambulismo é um fenômeno relativamente comum especialmente entre crianças, mas pode persistir também na vida adulta.
Apesar de geralmente não apresentar consequências graves para os pacientes, o quadro é cercado por muitas dúvidas e preocupações. Por isso, neste artigo explicamos tudo que você precisa saber sobre sonambulismo, suas causas, o tratamento e como agir na prática. Por exemplo: afinal, podemos ou não acordar uma pessoa sonâmbula?
Confira a resposta para todas essas perguntas a seguir.
O que é sonambulismo?
O sonambulismo é um distúrbio de comportamento que se origina durante o sono quando, por uma alteração no funcionamento normal do cérebro, apesar de continuar dormindo, o indivíduo consegue desempenhar algumas atividades motoras próprias do estado de vigília como caminhar, comer e falar.
Durante a noite normal acontecem ciclos intercalados de sono até o despertar. O processo do despertar depende de um mecanismo neurológico complexo que ocorre em vários níveis. Alguns deles são o despertar autonômico (há mudança do ritmo de funcionamento da frequência cardíaca, da pressão arterial e da atividade do metabolismo e dos órgãos), o despertar cortical (alterações nas ondas cerebrais que indicam a atividade no cérebro) e o despertar cognitivo (consciência e emoções).
O sonambulismo é um desajuste entre esses níveis de despertar, quando somente uma parte das funções cerebrais desperta, mas não se tem uma consciência semelhante à de quando estamos acordados, com memórias e planejamento consciente. Esse comportamento anormal durante o sono faz parte de um grupo de distúrbios de sono conhecido como parassonias.
O que são parassonias?
Parassonias são eventos físicos indesejáveis que ocorrem durante o sono. Entre esses eventos, podem ser citados movimentos, comportamentos ou atividades do sistema nervoso autonômico.
As parassonias ocorrem quando coexistem dois ou mais dos estágios de consciência (vigília, sono NREM e sono REM). Nesses momentos, chamados de “estágios de dissociação”, as funções cognitivas altamente especializadas ficam diminuídas, mas a função motora é em parte preservada.
É dentro desse contexto que se enquadra o soniloquismo (falar durante o sono) e o sonambulismo.
Classificação das parassonias
De acordo com a Classificação Internacional dos Distúrbios de Sono, as parassonias são divididas segundo o quadro a seguir:
A. Parassonias do sono não REM | B. Parassonias do sono REM | C. Outras parassonias |
A1. Alterações do despertar a. Despertar confusional b. Sonambulismo c. Terror noturno |
B1. Distúrbio comportamental de sono REM | C1. Síndrome da cabeça explodida |
A2. Distúrbio alimentar associada ao sono | B2. Paralisia isolada e recorrente do sono | C2. Alucinações relacionadas ao sono |
B3. Distúrbio de pesadelos | C3. Enurese do sono | |
C4. Parassonia secundária a doença | ||
C5. Parassonia secundária a medicação | ||
C6. Parassonia não especificada |
Sintomas do sonambulismo
- Sentar-se na cama de olhos abertos;
- Expressão vaga nos olhos;
- Levantar-se e caminhar pelo quarto;
- Abrir portas e locomover-se a outras partes da casa nesse mesmo estado;
- Refazer atividades realizadas durante o dia;
- Não responder quando alguém tenta conversar;
- Falar coisas sem sentido sozinho;
- Pegar objetos e derrubá-los;
- Não se lembrar de nada depois de acordar;
- Desorientação ao acordar.
Quem pode ter sonambulismo?
O sonambulismo é mais comum em crianças que em adultos e tem mais chance de ocorrer em pessoas que tenham um histórico familiar: estudos com gêmeos efeitos genéticos substanciais tanto na infância como na idade adulta e 40% das pessoas com sonambulismo possuem pelo menos doi outros parentes com esse distúrbio.
A faixa etária em que o fenômeno se manifesta com mais frequência é durante a idade escolar. Entre as crianças de 5 a 12 anos de idade, estima-se que de 15% a 40% tenham apresentado algum episódio de sonambulismo pelo menos uma vez na vida.
Em compensação, o sonambulismo tende a sumir após a adolescência e somente de 0,5% a 4% dos adultos apresentam esse comportamento. A recorrência em adultos pode estar associada a altos níveis de estresse. Um levantamento do Instituto do Sono mostrou que 3% dos paulistanos têm sonambulismo.
Quais são as causas do sonambulismo?
As causas do sonambulismo ainda não são bem explicadas. Nas crianças, acredita-se que ele ocorra como parte do processo de maturação do cérebro.
Já nos adultos, observa-se que os episódios de sonambulismo podem ser desencadeados por hábitos e situações ou doenças específicas. São exemplos:
- Privação de sono;
- Pesadelos;
- Estresse;
- Enxaqueca;
- Trauma craniano;
- Febre;
- Ingestão de álcool;
- Bexiga cheia;
- Apneia do sono;
- Asma;
- Depressão;
O comportamento sonâmbulo normalmente aparece de uma a duas horas após o adormecer.
Diagnóstico
O diagnóstico do sonambulismo leva em conta o relato dos pacientes e das pessoas que convivem com ele. Além disso, o resultado da polissonografia, exame que registra as reações do organismo durante o sono, e do eletroencefalograma são dados importantes para respaldar a avaliação do médico.
Sonambulismo pode apontar para problemas maiores?
Os principais riscos relacionados ao sonambulismo são eventuais acidentes por ações que possam ocorrer quando o paciente age dormindo.
Existem estudos que investigam a relação entre o sonambulismo na infância e a maior propensão a desenvolver transtornos de ansiedade durante a vida adulta, mas ainda é preciso avançar nas pesquisas.
Como tratar
O sonambulismo é um distúrbio benigno de sono, que tende a desaparecer espontaneamente após a infância. O tratamento só se torna necessário quando os episódios são frequentes e interferem na qualidade de sono do paciente ou da família e quando podem oferecer risco de acidentes ou constrangimento para o paciente.
O primeiro passo é adotar hábitos de higiene do sono, como:
- Manter horários fixos de deitar e levantar
- Evitar atividades estimulantes perto da hora de dormir (exercícios físicos, celular, computador, videogame, televisão)
- Realizar refeição leve antes de dormir
- Não ingerir líquidos antes de se deitar
- Esvaziar a bexiga antes de dormir
- Controlar a temperatura do quarto para uma boa noite de sono
- Garantir que o quarto esteja plenamente no escuro e livre de ruídos
- Não ingerir bebidas alcoólicas nem outras drogas
Técnicas de relaxamento, meditação, acupuntura e psicoterapia também podem ajudar a controlar esse distúrbio.
Quando as medidas não medicamentosas não são suficientes, o médico pode avaliar o benefício de recorrer aos medicamentos que combatem os estados de tensão e ansiedade e atuam sobre o padrão de sono.
Já nos casos de crises de sonambulismo associadas a doenças, como apneia do sono, refluxo gastroesofágico e febre, o tratamento adequado dessas condições, que funcionam como gatilho, tem se mostrado como o caminho mais bem sucedido. Por isso, é essencial que todo paciente consulte seu médico para que o caso seja analisado de forma personalizada e, assim, o tratamento seja direcionado.
Cuidados para proteger o sonâmbulo
Durante os episódios de sonambulismo, os pacientes podem se levantar dormindo, caminhar, falar e realizar alguma atividade motora durante o sono. Geralmente, depois de acordados, não se lembram de nada – ou da maior parte – do que aconteceu durante esses momentos.
O quadro de sonambulismo exige atenção para evitar que o indivíduo se machuque ou realize alguma atividade inadequada. Isso porque, em casos raros, o distúrbio pode envolver comportamentos mais complexos, como sair de casa, dirigir ou urinar fora do banheiro.
Por isso, é fundamental tomar precauções para deixar o ambiente mais seguro. São exemplos:
- Evitar deixar perto da cama copo de vidro ou outros objetos que possam machucar o sonâmbulo
- Colocar grades ou telas de proteção nas janelas de casa
- Trancar portas e guardar as chaves
- Proteger o acesso a escadas para evitar quedas
- Guardar bem facas, tesouras e objetos cortantes
- Deixar o chão livre de objetos (brinquedos, fios, tapetes)
- Instalar luzes acionadas por movimento para que outras pessoas da casa percebam caso o sonâmbulo esteja perambulando.
Pode acordar o sonâmbulo?
Talvez esse seja o tema de maior discórdia no senso comum relacionado ao sonambulismo. Muitos acreditam que não se pode acordar o paciente durante um episódio. Caso sejam acordados, eles certamente despertarão confusos e podem até ficar momentaneamente agressivos devido à dificuldade de entender o que está acontecendo. Porém, não existe risco real para a saúde do indivíduo ao acordá-lo, e isso pode ser necessário para prevenir alguma situação perigosa em que ele se encontre.
O mais comumente indicado, no entanto, é evitar estimular ainda mais o paciente (como conversar com ele), pois isso apenas aumentaria o estado de excitação e prolongaria a duração da crise.
Caso se depare com uma pessoa caminhando enquanto dorme, a recomendação é tocá-la suavemente, em silêncio, e conduzi-la, com calma e sem acordá-la, novamente à cama para que retorne ao sono normal.